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quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Doggerland, a Atlântida Britânica e o aumento do nível dos oceanos





A linha vermelha marca o Dogger Bank, que
provavelmente é uma moraína formada no Pleistoceno
Cientistas estudam artefatos de 9 mil anos, encontrados no Mar do Norte, que apontam para a existência de Doggerland, a Atlântida Britânica

Para o prazer de qualquer mudlark moderno - apaixonado por história e arqueologia que escavam a lama do rio Tamisa em busca de relíquias: moedas, peças de cerâmica, artefatos, ou objetos do dia-a-dia de há muitos séculos atrás -, descobriu-se que nas costas do Tamisa encontra-se um notável sítio arqueológico. 

Nos últimos anos, os mudlarks de Londres relataram encontrar todos os diferentes tipos de memorabilia e itens históricos, desde fragmentos de cerâmica romana até sapatos feitos durante a Era Tudor.

O interesse na iniciativa London Mudlarks é que cresceu tanto que uma página do Facebook dedicada a compartilhar itens encontrados do leito do rio Tamisa atingiu quase 30 mil seguidores. No entanto, não são apenas os rios que fazem de peças perdidas da história um grande tesouro. Também são os leitos marinhos; como é o caso do Mar do Norte.

É improvável que fragmentos de cerâmica romana possam ser coletados do mar do Mar do Norte. O que os pescadores relataram encontrar é talvez muito mais espetacular: ossos, ferramentas e outros artefatos, tão antigos que chegam a ter cerca de 9 mil anos de idade. Essas descobertas chamaram a atenção imediata de arqueólogos e paleontologistas britânicos e holandeses, pois provavelmente são evidências da história submersa de Doggerland.

Isto nos leva historicamente à última grande Era do Gelo, que estava chegando ao seu final há cerca de 12 mil anos atrás. Durante esse período, as ilhas britânicas certamente não eram britânicas, nem eram ilhas. 

O mapa da época parecia bastante diferente, já que o continente europeu era interligado à costa leste da Grã-Bretanha. O vasto pedaço de terra que os ligava era composto de muitas colinas, pântanos e florestas densas, e ocupava uma grande parte de onde as águas do Mar do Norte se estendem hoje em dia.

O nome desta área é Doggerland, local habitados por humanos do período mesolítico que lá prosperaram por muitos anos. Essas pessoas pré-históricas eram caçadoras-coletoras e dependiam principalmente da caça e da pesca para sobreviver, mas também tinham a sua disposição: frutas, bagas e frutos secos das florestas.

 Crânio de mamífero lanoso descoberto por pescadores no Mar do Norte, no Museu Celta e Pré-histórico, Irlanda
Autor Omigos CC BY-SA 3.0

A vida por lá deve ter sido boa, até o período de tempo compreendido entre 6.500 aC e 6.200 a.C. quando, segundo os cientistas, Doggerland lentamente começou a render-se ao aumento do nível do mar. Eventualmente, este rico habitat humano primitivo acabou totalmente submerso, no fundo do mar, e os Doggerlanders foram forçados a migrar. Eles acabaram se mudando para áreas que hoje pertencem tanto à Inglaterra quanto à Holanda.

Recentemente, especialistas têm trabalhado em um modelo digital que retrata como Doggerland poderia ter parecido, antes que as inundações a tomassem por completo. Os dados necessários para produzir esse modelo foram amplamente recuperados de empresas que extraem petróleo do Mar do Norte. O modelo produzido projeta uma área de até 18 mil quilômetros quadrados.

Assim como a misteriosa Atlantida, Doggerland não é mais que um habitat da Idade da Pedra, há muito esquecido, cujos restos são ossos deteriorados e artefatos perdidos de seus habitantes que acabam sendo encontrados nas redes dos barcos de pesca. A história dela pode facilmente ser interpretada como uma advertência para os resultados finais do aumento rápido do nível do mar causado pelas mudanças climáticas.


Mapa que mostra a extensão hipotética de Doggerland
(c. 10.000 aC), que forneceu uma ponte terrestre entre
a Grã-Bretanha e a Europa continental
Autor Max Naylor CC BY-SA 3.0
Os especialistas que estudam e pesquisam Doggerland foram rápidos, em conectar os eventos que selaram o destino de seu povo, para nossa própria realidade de mudança climática. À medida que os assentamentos dos Doggerlanders eram alagados eles ficaram sobrecarregados com a água que não parava de subir, até que, eventualmente, o Reino Unido desconectou-se do continente. 

Falando a respeito, é o que a National Geographic descreve, "uma situação semelhante, se as calotas polares continuarem a derreter a um ritmo acelerado, pode afetar hoje os bilhões de pessoas que vivem dentro de uma faixa de 60 quilômetros de um litoral".

Os cientistas ainda precisam analisar amostras de insetos e plantas antigas, DNA de animais, e assim por diante. Uma vez que os estudos científicos abaixo do Mar do Norte forem concluídos, vão fornecer uma imagem mais clara de como a paisagem de Doggerland se parecia, qual vegetação e animais compunham seu ecossistema e, possivelmente, como o povo mesolítico mudou seu habitat.

Em outras palavras, os resultados da pesquisa final fornecerão insights sobre o estilo de vida e a cultura de numerosas gerações de britânicos pré-históricos, que prosperaram em Doggerland, por cerca de 6.000 anos antes da área finalmente ter desaparecido debaixo das águas.

Fonte: The Vintage News | National Geographic (tradução livre)

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